Cadê Meu Chimarrão?

terça-feira, janeiro 11

E São Paulo me recebeu com as luzes acesas.

A sensação de liberdade que se experimenta quando se embarca num avião, sozinho, indo pra um lugar onde nunca se esteve, é indescritível. É uma sensação... de liberdade, oras! Quem já está cansado de andar de avião pode pular os próximos parágrafos, porque eu quero detalhar tudo para vocês, como foi.
Eu não estou aqui nem há 24 horas ainda, mas já tenho muita coisa pra contar. Por isso pegue uma água, um pacote de Trakinas, feche as janelas do MSN e do ICQ, desligue seu celular e prepare-se para viajar nas asas das minhas palavras.

A última coisa que os meus pais viram de mim foi a minha inquietação atrás de alguma coisa para ler na viagem. Eu simplesmente pensei que aquilo não ia ter muita graça, ia se resumir à três etapas: o medo da decolagem, o tédio do trajeto e o medo do pouso. Mas que nada, foi bem mais emocionante do que isso!

Primeiro, o blablabla típico das aeromoças (comissárias de bordo!) em relação ao equipamento de segurança e seu uso. Depois o comandante dá às "boas vindas aos passageiros do vôo GOL dezessete cinquenta e três com destino ao Aeroporto Internacional de Congonhas, em São Paulo". Fala isso e depois repete em inglês. Muito legal.

Modéstia à parte, eu acho que sentei no melhor lugar de toda a aeronave. Era no lado direito, quatro fileiras atrás da cabine de comando, na janela à direita. Assento 4F, para os entendidos. Era o melhor porque eu tinha ampla visão, assim como todos os das outras janelas, mas ainda podia ver as turbinas e a asa direita, no canto direito da janela. Perfeito! Isso que eu ainda nem sabia o que ia passar por aquela janela.

Era difícil conter a exitação e aqueles sorrisos que são mais fortes do que a gente, quando o avião decolou. Quando o trem de pouso perdeu contato com o chão, lá estava eu: voando pela primeira vez. Porto Alegre é linda vista de cima. Eu parti às 20:30, de modo que ainda estava claro (eu amo o horário de verão!) e eu pude ver tudo. Ruas que parecem verdadeiros rabos de Marsupilami (!), de tão tortas, na realidade são retinhas, retinhas. Bairros que parecem labirintos, na verdade são como tabuleiros de xadrez. Simetricamente arranjados. Carros, pessoas, casas, ruas, lojas... tudo ia ficando menor e menor a cada segundo.
E de repente Porto Alegre não estava mais lá. Foi a última vez que eu vi a "minha" cidade.

Em alguns poucos minutos, avião passava por dentro de uma nuvem. O céu estava perfeito: poucas nuvens, entardecer, a auréola celeste da cor rosada que o sol dá quando está se pondo. Nesse momento eu lembrei da minha amigona, a
Tani. Queria poder tirar uma foto daquilo. Ia fazer inveja às fotos dela. Eu ia fazer um fotolog só pra publicá-la e nunca mais tirar. Ou melhor, ia usá-la como fundo para esse blog.

Quando se está a uma altitude um pouco menor, a gente presta muita atenção ao relevo terrestre. À disposição das ruas, como eu já falei, e a outros detalhes que só se consegue ver quando se está "por cima". Mas é só você subir um pouco mais que começa a prestar atenção a uma coisa que não consta em nenhum livro de geografia: o relevo das nuvens. Cada nuvem era única. Umas eram arredondadas, altas. Outras eram densas, outras quase transparentes. Algumas pareciam castelos, de tão altas e cheias de detalhes, outras lembravam mais um tapete delicado de algodão doce sabor àgua. Se algum dia eu estive perto de Deus, foi ontem.
Depois foi anoitecendo, anoitecendo, até que não se via mais nada pela janela. Mas OK. Tinha bastante coisa pra ver dentro do avião mesmo.

A cada um metro e pouco (mais ou menos duas fileiras de assentos) havia um monitor flat saindo do teto. Alguém aí já jogou jogos de guerra aérea no videogame ou PC? Pois o monitor mostrava exatamente o que um "mission map" de um jogo desses mostraria. E a qualidade gráfica era muito semelhante aos 16 bits dos jogos de Super Nintendo. Havia um pontinho com as palavras "Porto Alegre", uma linha vermelha que ligava esse ponto a um aviãozinho (a linha era traçada pelo próprio avião, na verdade) e, mais lá adiante, um pontinho com a legenda "São Paulo".
Havia alguns círculos, também, que mudavam às vezes. Num momento havia um em Florianópolis, depois outro em alguma cidade Argentina, depois no Guarujá... Mais para dar um senso de localização mesmo, eu acho. Fora que o monitor também mostrava dados como altitude, velocidade com que o vento passava pela cauda, tempo restante do vôo e um valor chamado Mach, que eu não sei ao certo o que é, mas acho q tem a ver com velocidade no ar. Eles usam Nós para velocidade marítima, então acho que velocidade aérea se mede em Mach. Mas sei lá. Só sei que era cool.

A essas alturas já estava bem escuro lá fora, como eu já disse, e eu já não tinha mais muito o que ver ali dentro. Relaxei, liguei a luzinha individual e puxei a minha revista da mochila. Coincidência ou ironia eu não sei, mas a matéria que eu li foi "2015: Como Viveremos", da revista Galileu. Eu devo mesmo ser um cara à frente do meu tempo: não faço idéia de como vai ser o meu 2005 e já estou de olho em 2015!

Piadinhas à parte, a chegada foi a parte mais excitante. Eu não sei se Porto Alegre é daquele jeito também quando está escuro, só sei que eu estava chegando à São Paulo, mas me sentia em outro planeta. As ruas estavam todas iluminadas - claro! Era noite! - e pareciam veias e artérias de um organismo aparentemente bem mais complexo do que Porto Alegre me pareceu. Foi lindo, foi mágico.

Ok, fim de papo sobre o vôo.
Qualquer coisa, me perguntem. Amanhã eu continuo, postando como foi a chegada aqui em Sampa, como está sendo viver aqui, etc., e algumas curiosidades divertidas!
Vai ser legal! Legal não, vai ser "tri massa!" ;)

Ou melhor! Quem sabe eu poste a parte divertida da história no A Nível de Myself. Acho que cabe melhor! Não garanto, mas prestem atenção lá que quem sabe eu tenha tempo e poste. ^^