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terça-feira, janeiro 18
Adaptação
Se despedir da família é sempre difícil, assim como se adaptar a uma nova realidade. Aqui são outras pessoas, outros custumes, outros lugares.
Às vezes, quando eu era menor e ia dormir na casa de alguém estranho, eu abria os olhos no meio da noite e tentava me lembrar de como era o quarto com as luzes acesas. Quando eu não conseguia me lembrar, dava uma sensação ruim, de olhar pro escuro e não saber o que está à minha volta. Na primeira noite aqui, na hora de dormir, eu tive essa mesma sensação, não em relação ao quarto, mas sim ao mundo todo ao meu redor. Eu não conheço absolutamente nada daqui. Mal sei o nome da rua onde eu estou. Não sei o tamanho dela, quantas casas têm, onde é a parada (aqui eles chamam de "ponto") de ônibus mais próxima, nem mercado, farmácia, nada. É muito estranho.
Aqui eu tenho algumas mordomias que eu sempre quis em casa, como poder entrar na internet a qualquer hora, com banda larga. Mas ao mesmo tempo tenho que dividir o computador com o resto do pessoal todo, ao passo que, em casa, era só com meu irmão. Tem TV por assinatura, mas também não é sempre que posso escolher o canal. Ainda bem que a Si e a Éri gostam do canal da Sony!
Mesmo assim, não dá pra reclamar. Tá sendo tão difícil quanto eu pensei. Nem mais, nem menos.
(Nota: Esse blog tá MUITO atrasado em relação aos acontecimentos reais. To postando hoje uma coisa que eu escrevi no segundo dia que eu estive aqui! Mas eu vou tentar colocar as coisas em ordem! E postar as coisas mais atuais! Até a próxima!)
sexta-feira, janeiro 14
Garoa? Que garoa??
Bom, o avião pousou.
Depois de dar os primeiros passos em solo paulista, pego um carrinho no aeroporto e vou atrás da minha mala, que já devia estar tonta naquela esteira. Estava um tumulto, mas consegui. Não sozinho, claro, porque aquela mala estava tão pesada que parecia que eu tinha trazido a minha família inteira dentro dela.
Beleza. Mala no carrinho, sigo em direção ao portão de desembarque, onde uma pequena multidão de pessoas esperavam ansiosamente pelos passageiros que estavam descendo ali. Faixas e cartazes, lágrimas e abraços. Bom, pra falar a verdade eu não vi ninguém chorando, mas sempre tem alguém que se emociona, né!
E eu, no meio de toda essa gente, só queria saber da minha menininha, a Érika! Cadê? Cadê? Cadê ela? Eu saí, passei por todo mundo e... Cadê ela, porra?? Se eu não soubesse que essa garota é a rainha da demora pra se arrumar, eu teria ficado preocupado, mas eu sei como ela é. Tudo que eu fiz foi ir até o telefone público, ligar a cobrar pra ela (ela mereceu, né!) e perguntar: "E aí, me esqueceu aqui??"
Não deu quinze minutos, ela estava lá. Ela, a Sílvia (irmã dela) e Seu Nelson, pai das duas. Conversamos um pouquinho, cumprimentei todos (eu só conhecia a Érika) e fomos para o carro.
No caminho, passamos no Mercado Extra. Foi legal. Compramos uns refris e umas bolachas e umas coisas pra casa e um shampu pra mim. Tranquilo, nada demais.
Depois fomos ao Habbib's encomendar a janta. Não ia ter janta "normal" naquele dia, né? Era festa! EU estava chegando! Haha, grande coisa.
Só sei que eles pediram "só" 60 esfihas e eu fiz questão de pedir um Kibe. Claro que a primeira coisa que eu iria comer em solo paulista teria que ser um Kibe! ALGUÉM aqui sabe por quê. Hahaha!
Mas o fato é que eu troue chuva pra SP. Muita chuva.
No dia em que eu cheguei, começou um puta chuvão que alagou todo o ABC Paulista. (É sempre bom causar impacto, não?) Mas é óbvio que a chuva começou exatamente no momento que a gente estava dentro do estacionamento ao lado do Habbib's. Claro, se eu fosse uma nuvem de chuva eu também não iria esperar até que nós estivéssemos sãos e salvos em casa para começar a chover! Resultado: pegamos chuva até a porta do lugar. Uma vez dentro do estabelecimento, quando pensávamos que estávamos sãos, secos e salvos, algum manézão COM CERTEZA fez algum comentário do tipo "pior que isso não tem como ficar", porque ficou: faltou luz.
Depois de ter esperado o indivíduo pedir perdão a Deus e desejar que a luz voltasse, pegamos as esfihas e fomos de volta ao carro. Não sem tomar mais chuva nas costas, claro. O resto do caminho foi normal e no próximo post eu conto como foi a adaptação aqui no lar da família Ochiro.
Fiquem com Deus!
(No A Nível de Myself eu postei curiosidades sobre esse dia. Clique aqui ou aqui, ou ali atrás, no nome do blog, para ler. Obrigado)
terça-feira, janeiro 11
E São Paulo me recebeu com as luzes acesas.
A sensação de liberdade que se experimenta quando se embarca num avião, sozinho, indo pra um lugar onde nunca se esteve, é indescritível. É uma sensação... de liberdade, oras! Quem já está cansado de andar de avião pode pular os próximos parágrafos, porque eu quero detalhar tudo para vocês, como foi.
Eu não estou aqui nem há 24 horas ainda, mas já tenho muita coisa pra contar. Por isso pegue uma água, um pacote de Trakinas, feche as janelas do MSN e do ICQ, desligue seu celular e prepare-se para viajar nas asas das minhas palavras.
A última coisa que os meus pais viram de mim foi a minha inquietação atrás de alguma coisa para ler na viagem. Eu simplesmente pensei que aquilo não ia ter muita graça, ia se resumir à três etapas: o medo da decolagem, o tédio do trajeto e o medo do pouso. Mas que nada, foi bem mais emocionante do que isso!
Primeiro, o blablabla típico das aeromoças (comissárias de bordo!) em relação ao equipamento de segurança e seu uso. Depois o comandante dá às "boas vindas aos passageiros do vôo GOL dezessete cinquenta e três com destino ao Aeroporto Internacional de Congonhas, em São Paulo". Fala isso e depois repete em inglês. Muito legal.
Modéstia à parte, eu acho que sentei no melhor lugar de toda a aeronave. Era no lado direito, quatro fileiras atrás da cabine de comando, na janela à direita. Assento 4F, para os entendidos. Era o melhor porque eu tinha ampla visão, assim como todos os das outras janelas, mas ainda podia ver as turbinas e a asa direita, no canto direito da janela. Perfeito! Isso que eu ainda nem sabia o que ia passar por aquela janela.
Era difícil conter a exitação e aqueles sorrisos que são mais fortes do que a gente, quando o avião decolou. Quando o trem de pouso perdeu contato com o chão, lá estava eu: voando pela primeira vez. Porto Alegre é linda vista de cima. Eu parti às 20:30, de modo que ainda estava claro (eu amo o horário de verão!) e eu pude ver tudo. Ruas que parecem verdadeiros rabos de Marsupilami (!), de tão tortas, na realidade são retinhas, retinhas. Bairros que parecem labirintos, na verdade são como tabuleiros de xadrez. Simetricamente arranjados. Carros, pessoas, casas, ruas, lojas... tudo ia ficando menor e menor a cada segundo.
E de repente Porto Alegre não estava mais lá. Foi a última vez que eu vi a "minha" cidade.
Em alguns poucos minutos, avião passava por dentro de uma nuvem. O céu estava perfeito: poucas nuvens, entardecer, a auréola celeste da cor rosada que o sol dá quando está se pondo. Nesse momento eu lembrei da minha amigona, a Tani. Queria poder tirar uma foto daquilo. Ia fazer inveja às fotos dela. Eu ia fazer um fotolog só pra publicá-la e nunca mais tirar. Ou melhor, ia usá-la como fundo para esse blog.
Quando se está a uma altitude um pouco menor, a gente presta muita atenção ao relevo terrestre. À disposição das ruas, como eu já falei, e a outros detalhes que só se consegue ver quando se está "por cima". Mas é só você subir um pouco mais que começa a prestar atenção a uma coisa que não consta em nenhum livro de geografia: o relevo das nuvens. Cada nuvem era única. Umas eram arredondadas, altas. Outras eram densas, outras quase transparentes. Algumas pareciam castelos, de tão altas e cheias de detalhes, outras lembravam mais um tapete delicado de algodão doce sabor àgua. Se algum dia eu estive perto de Deus, foi ontem.
Depois foi anoitecendo, anoitecendo, até que não se via mais nada pela janela. Mas OK. Tinha bastante coisa pra ver dentro do avião mesmo.
A cada um metro e pouco (mais ou menos duas fileiras de assentos) havia um monitor flat saindo do teto. Alguém aí já jogou jogos de guerra aérea no videogame ou PC? Pois o monitor mostrava exatamente o que um "mission map" de um jogo desses mostraria. E a qualidade gráfica era muito semelhante aos 16 bits dos jogos de Super Nintendo. Havia um pontinho com as palavras "Porto Alegre", uma linha vermelha que ligava esse ponto a um aviãozinho (a linha era traçada pelo próprio avião, na verdade) e, mais lá adiante, um pontinho com a legenda "São Paulo".
Havia alguns círculos, também, que mudavam às vezes. Num momento havia um em Florianópolis, depois outro em alguma cidade Argentina, depois no Guarujá... Mais para dar um senso de localização mesmo, eu acho. Fora que o monitor também mostrava dados como altitude, velocidade com que o vento passava pela cauda, tempo restante do vôo e um valor chamado Mach, que eu não sei ao certo o que é, mas acho q tem a ver com velocidade no ar. Eles usam Nós para velocidade marítima, então acho que velocidade aérea se mede em Mach. Mas sei lá. Só sei que era cool.
A essas alturas já estava bem escuro lá fora, como eu já disse, e eu já não tinha mais muito o que ver ali dentro. Relaxei, liguei a luzinha individual e puxei a minha revista da mochila. Coincidência ou ironia eu não sei, mas a matéria que eu li foi "2015: Como Viveremos", da revista Galileu. Eu devo mesmo ser um cara à frente do meu tempo: não faço idéia de como vai ser o meu 2005 e já estou de olho em 2015!
Piadinhas à parte, a chegada foi a parte mais excitante. Eu não sei se Porto Alegre é daquele jeito também quando está escuro, só sei que eu estava chegando à São Paulo, mas me sentia em outro planeta. As ruas estavam todas iluminadas - claro! Era noite! - e pareciam veias e artérias de um organismo aparentemente bem mais complexo do que Porto Alegre me pareceu. Foi lindo, foi mágico.
Ok, fim de papo sobre o vôo.
Qualquer coisa, me perguntem. Amanhã eu continuo, postando como foi a chegada aqui em Sampa, como está sendo viver aqui, etc., e algumas curiosidades divertidas!
Vai ser legal! Legal não, vai ser "tri massa!" ;)
Ou melhor! Quem sabe eu poste a parte divertida da história no A Nível de Myself. Acho que cabe melhor! Não garanto, mas prestem atenção lá que quem sabe eu tenha tempo e poste. ^^
domingo, janeiro 9
Daqui a 24 Horas
E aí! Tudo tri?
Aqui é o Fábio.
Agora são 20:46 no meu relógio, o que significa que daqui a exatas vinte e quatro horas eu vou estar dentro de um avião, sobrevoando algum ponto da região sul do Brasil. Provavelmente a fronteira do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.
Para trás vão ficar família, amigos, lugares, lembranças e fotos. Comigo eu vou levar as esperanças de me adaptar rápido, conseguir um bom emprego o quanto antes e fazer muitos amigos logo.
E já que estamos pensando no futuro, vou postar aqui meus objetivos de vida desse ano de 2005! Daqui a 365 dias eu volto aqui e vejo o quê eu consegui ou não!
- Amar a Érika mais ainda do que eu já amo.
- Conseguir um bom emprego legal.
- Entrar pra uma boa faculdade.
- Assistir a no mínimo 5 shows inesquecíveis.
- Comprar no mínimo 5 CD inesquecíveis
- Conseguir montar uma banda.
- Pelo menos começar a escrever meu livro.
Bom... é isso. Quem quiser saber "a quantas anda" o meu processo de adaptação aqui, é só continuar acompanhando o blog! Eu aviso no "A Nível de Myself" quando tiver post novo aqui, beleza?
Fiquem em paz!